Crônicas dos Campos Gerais: ‘’Um jardim de copos-de-leite" | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘’Um jardim de copos-de-leite"

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais daAcademia de Letras dos Campos Gerais

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais daAcademia de Letras dos Campos Gerais
Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais daAcademia de Letras dos Campos Gerais -

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Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais daAcademia de Letras dos Campos Gerais

Imigrantes do Volga na Argentina, a família de Dorothea Luzia Scheiffer Knapp, minha avó “Nhata”, veio para uma colônia de alemães-russos, em Palmeira. Desiludiram-se com as condições da colônia e acabaram retornando para a Argentina, mas ela ficou aqui, pois já estava casada com meu avô Alvídio Knapp.

Tornou-se uma pessoa só, quase eremita, tomando conta do sítio, enquanto meu avô passava dias e dias fora de casa, por uma obsessão de andarilhar. Vinha do Taboleiro, distrito de Guaragi, para Ponta Grossa, a pé, utilizando trilhas por entre as fazendas, parando em algumas, onde tinha conhecidos, como a dona Ambrozina, que o acolhia para tomar um “prato de leite com farinha de milho”, e às vezes pousar no paiol de sua fazenda, na região de Roxo Roiz. Ia para Porto Amazonas, passando por Restinga Seca, onde nascera, e para Araucária, onde também tinha conhecidos do tempo em que fora cozinheiro da tropa.

“Nhata” tinha uma horta e um pomar, mas isso não parecia ter muita importância para ele. Quase não havia flores, pois ele não se importava com elas. Andarilhava, enquanto ela, depois que os filhos casaram, ficava, noites e noites seguidas, sozinha em uma casa mal acabada, sem pintura, sem vidraças, apenas com folhas de madeira para fechá-las, iluminada por um lampião de querosene, o que a tornava ainda mais lúgubre. O mato crescia tão próximo que mal podia ver as estrelas, que para ele, em suas “tropeadas sem tropa”, eram guias; mal podia se encantar com o luar que iluminava os caminhos dele, pois só o via passando por frestas na parede, enquanto, amedrontada pelo escuro da solidão, se recolhia para dormir com as aranhas em teias que pendiam do teto.

De dia, ela se encantava com o jardim de copos-de-leite, que se espalharam por conta própria, debaixo da janela de sua cozinha, em abundância, como dons devolvidos pelo espírito da natureza, em gratidão pelos “restos” ofertados, sem a menor intenção, pelo espírito humano, despreocupado. Aquela terra era constantemente regada pela água da louça lavada em uma gamela de madeira tosca, conduzida por uma canaleta escavada para um buraco na parede, indo parar no jardim dos copos-de-leite, que também não tinha importância para o andarilho, caminhando pelas trilhas que o presente roubara do passado, somente para os seus passos livres, despreocupados. O seu andarilhar, tão importante para ele, não foi importante para preservar a saúde de quem ele amava, a seu modo.

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