Crônicas dos Campos Gerais: ‘O Sul, enfim’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘O Sul, enfim’

O texto de hoje é de autoria de Mouzar Benedito da Silva

Mouzar é formado em Geografia e Jornalismo, e tem 51 livros publicados
Mouzar é formado em Geografia e Jornalismo, e tem 51 livros publicados -

Da Redação

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O texto de hoje é de autoria de Mouzar Benedito da Silva

Mal tinha amanhecido o dia quando o trem saiu de Itararé com destino a Ponta Grossa. Era a segunda etapa de uma viagem que me levaria pela primeira vez ao Sul do Brasil.

Sempre gostei de viajar, conhecia todos os estados do Nordeste, e não só as áreas “turísticas”, mas principalmente o Sertão. Não foi à toa que estudei Geografia. Queria conhecer o Brasil todo, o Brasil profundo principalmente, mas estranhamente a região Sul não me era muito atrativa.

Já viajara também pelo Centro-Oeste, um pedacinho da Amazônia, mas o Sul nunca fora visitado por mim. Motivo? Achava que encontraria tudo certinho, gente certinha, cada coisa em seu lugar. Tudo muito normal. E o “normal” não me atraía.

Mas tinha que ir à região. Sabia dos seus atrativos, li sobre sua História, a guerra guaranítica, seu líder Sepé Tiaraju, a Guerra do Contestado, a saga de Giuseppe e Anita Garibaldi, o tropeirismo que usava os Campos Gerais do Paraná como base antes de chegar ao sul paulista, o caminho do Peabiru, muitas histórias... E as belezas naturais – o Paraná tem muitas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também... Mas eu achava que encontraria tudo organizado demais, algo não atraente para meu espírito simpatizante do anarquismo.

Porém, quando criança, diante de um mapa do Brasil, me propus: vou conhecer todos os estados. E queria cumprir isso.

O “estalo” foi o sucateamento das ferrovias, em franco progresso. Mineiro gosta de viajar de trem, e eu sou mineiro. Precisava aproveitar antes que acabasse. Então fui viajando por onde ainda existiam trens de passageiros. Nessa viagem, fui de São Paulo a Itararé, de lá a Ponta Grossa e dali seguiria para o Sul.

Bom... A bordo do trem que se aproximava de Sengés, seguia pensando no meu preconceito contra coisas muito organizadas, que eu classificava como “Sul”. E de repente, no meio do nada, ele parou. Começou a demorar para sair de novo e pensei: “Xi, até aqui no Sul organizado as ferrovias já estão precárias?”

Uns vinte minutos depois, curioso para saber o que estava acontecendo, olhei pela janela e ao lado passaram de volta o maquinista e o sujeito encarregado de conferir as passagens. Traziam maços de agrião embaixo dos braços. O maquinista, vendo a minha cara de curiosidade, contou que havia parado para roubar um pouco de agrião numa plantação que ele sabia que havia um pouco abaixo.

“O Sul não é tão ‘Sul’ assim”, pensei sorrindo. E vivenciei boas surpresas na viagem toda. Voltei muitas vezes ao Sul, tive até namoradas na região.


Texto produzido no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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