Crônicas dos Campos Gerais: ‘Rotina’ | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: ‘Rotina’

O texto de hoje é de autoria de Felipe Vieira da Silva, que desde 2008 trabalha como carteiro em Ponta Grossa

A paixão de Felipe por literatura nasceu na adolescência ao ler textos de Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade
A paixão de Felipe por literatura nasceu na adolescência ao ler textos de Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade -

Da Redação

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O texto de hoje é de  autoria de Felipe Vieira da Silva, que desde 2008 trabalha como carteiro em Ponta Grossa

Mal o ônibus deixara o terminal central e, embaixo da passarela, um casal de velhinhos estava parado a contemplar o horizonte.

— Quem será que são? Todo dia estão aqui, o que será que fazem? Esperam alguém? Mas sempre nesse mesmo horário — pensava Roberto, enquanto se apertava e tentava se segurar em pé no ônibus lotado que o levava para casa, após mais um dia de trabalho.

— Será que mais alguém notou? — Olhou à volta e viu alguns rostos conhecidos; apesar de pegar o mesmo coletivo há meses, nunca puxara conversa com ninguém.

— Aquele vem de manhã… Esse desce um ponto antes de mim…

— Opa! — gritou um coro de secundaristas. Era a esquina das ruas Catão Monclaro com a Fagundes Varela.

— Qualquer dia desses um ônibus ainda capota nesse lugar — pensou — Nossa, mas todo dia eu tenho essa impressão… Espere, hoje acordei meio dormindo, tomei meu café requentado e corri para o ponto, acenei com a cabeça pro rapaz que sempre já está lá, meu vizinho veio correndo de novo, todo dia ele vem quando o ônibus já vem vindo, o mesmo bom dia ao motorista e ao cobrador ao embarcar, a mesma disputa pra tentar chegar ao lugar de sempre no fundo, as mesmas sacolejadas nos buracos das ruas, os mesmos números das casas passando pela janela, as mesmas pessoas embarcando nos mesmos pontos, o mesmo movimento no terminal, os mesmos ambulantes abrindo suas barracas, os mesmos estudantes a caminho do Regente pelo calçadão, o mesmo cumprimento aos colegas de trabalho que lá já estão — E percebeu que quem fazia a mesma rotina era ele, e não o casal de velhinhos que ficara pra trás.

— Talvez todo dia vejam algo diferente e se divirtam com as coisas bobas que acontecem todo dia por lá… Opa, meu ponto…

Desceu, seguiu para casa e, no caminho, esqueceu o que pensara; talvez amanhã, quando estiver voltando e ver o casal novamente, continue o raciocínio ou começará tudo de novo!

Texto  escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

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