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Pandemia derruba número de passageiros de ônibus urbanos

A queda ocorreu nos meses de abril e outubro de 2020, na comparação com 2019; levantamento da NTU revela que houve redução de 51,1% nos passageiros pagantes transportados, na média dos dois meses

Ônibus da empresa Viação Campos Gerais, de Ponta Grossa
Ônibus da empresa Viação Campos Gerais, de Ponta Grossa -

Da Redação

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A queda ocorreu nos meses de abril e outubro de 2020, na comparação com 2019; levantamento da NTU revela que houve redução de 51,1% nos passageiros pagantes transportados, na média dos dois meses

As medidas de distanciamento social resultaram numa queda de 51,1% nos passageiros pagantes transportados pela frota de ônibus urbano em 2020, na comparação com o ano anterior. Cada ônibus transportou em média 167 passageiros ao longo de cada dia; isso significa menos de sete passageiros transportados por hora em sistemas com 24 horas de operação, segundo estudo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

O Anuário NTU 2020-2021 avalia há 27 anos o desempenho operacional do setor e será lançado durante o Seminário Nacional NTU, evento on-line que começa na terça-feira (21). O estudo considera as médias dos indicadores apurados nos meses de abril e outubro de cada ano, conforme a série histórica realizada pela Associação, com base em nove capitais - Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR, Fortaleza-CE, Goiânia-GO, Porto Alegre-RS, Recife-PE, Rio de Janeiro-RJ, Salvador-BA e São Paulo-SP. Nessas capitais, que representam 35% da demanda nacional, deixaram de ser realizadas 147,2 milhões de viagens/mês na média dos meses de abril e outubro do ano passado nos serviços de ônibus, em comparação com igual período de 2019.

"A situação observada em 2020 é muito diferente daquela verificada no início da série histórica, quando cada veículo transportava 631 passageiros pagantes em média diariamente. Desde então, houve uma diminuição de 73,6%", destaca o presidente-executivo da NTU, Otávio Cunha.

A perda de demanda resultou, segundo o Anuário da NTU, num prejuízo acumulado de mais de R﹩ 16,7 bilhões no período de março de 2020 a junho de 2021, o que agravou profundamente a crise que as empresas operadoras já vinham enfrentando mesmo antes da pandemia. "É urgente uma mudança estrutural que contemple a alteração do modelo de remuneração, garanta maior segurança jurídica e ofereça infraestrutura que permita a oferta de um serviço de qualidade a preços acessíveis", afirma Otávio Cunha.

Segundo o Anuário, abril de 2020 foi o mais impactado, com uma queda de 67,3% nas viagens realizadas por passageiros por ônibus urbano na comparação com 2019, equivalente a 2/3 dos deslocamentos realizados por passageiros pagantes antes da pandemia. Em outubro do ano passado, a redução observada foi de 35,4%.

Segundo o presidente da NTU, os reflexos negativos da Covid-19 são sentidos pelos sistemas de transporte público por ônibus desde março de 2020, o pior momento para o setor. "Naquele mês (março de 2020) foi registrada uma redução de demanda transportada de 80%, de acordo com monitoramento realizado pela NTU nas capitais e regiões metropolitanas", esclarece. De agosto de 2020 até junho de 2021, a diminuição da demanda ficou estabilizada entre 35% a 40%, de acordo com o mesmo acompanhamento. Ou seja, mais de um ano após o início da pandemia, não existe ainda uma sinalização de recuperação da demanda na direção do mesmo patamar de antes.

Para Otávio Cunha, a única chance de recuperação do setor passa pela reestruturação do transporte público no país, com a criação de um novo marco legal para o setor. "Esta não é uma opinião minha. É fruto do consenso de entidades e especialistas da área", frisa. E explica que o novo transporte público, que a

população tanto deseja, só será viável com uma tarifa acessível à população de baixa renda, que mais utiliza o transporte público coletivo urbano.

O levantamento destaca também que a situação observada em 2020 é muito diferente daquela verificada no início da série histórica, quando cada veículo realizava 631 viagens (ou seja, transportava 631 passageiros pagantes) diariamente. Desde então, houve uma diminuição de 73,6%. Mesmo em relação ao período de 1999-2013, caracterizado por uma estabilidade do indicador, o número de viagens realizadas por passageiros pagantes para cada ônibus do sistema caiu quase 60% em 2020.

Em queda

É importante registrar que a drástica redução de passageiros pagantes transportados verificada no último ano soma-se à tendência de expressiva queda observada nas últimas décadas. De 1994 a 2012, a queda da demanda de passageiros foi de 24,4%; e de 2013 a 2019, a redução foi de mais 26,1%, conforme registra o Anuário.

O levantamento da NTU faz a análise de desempenho do setor com base em 11 indicadores, distribuídos em três áreas - operacional, insumos e custos. Entre eles está o IPKe, índice de passageiros equivalentes (viagens realizadas por passageiros pagantes) por quilômetro, que despencou 25,6% em 2020, comparado a 2019. A produtividade do setor, que nos últimos 20 anos estava estabilizada em níveis muito abaixo dos valores observados no início da série histórica, caiu radicalmente e atingiu a preocupante marca de somente um passageiro pagante transportado para cada quilômetro rodado. No período dos 27 anos analisados, a queda de produtividade é de 55,4%.

Frota

Outro indicador relevante, a idade média da frota de ônibus urbano, revela que o índice mais recente é um dos maiores de toda a série histórica. Nos últimos nove anos, não aconteceu renovação expressiva dos

veículos. Segundo o levantamento, a idade média da frota manteve-se estável em 2020, em relação ao ano anterior. A média dos nove sistemas analisados é de 5 anos e 8 meses.

Otávio Cunha explica que o desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos, agravado desde o início da pandemia, comprometeu a capacidade de renovação da frota pelas empresas operadoras, mesmo para atendimento das determinações de vida útil e idade média definidas nos editais de licitação e contratos.

O comportamento do mercado de venda de veículos do tipo ônibus urbano, que apresentou desempenho negativo em 2020, é um indicativo da estabilização constatada. Outro fator que contribui para a análise é a estagnação da realização de investimentos em empreendimentos direcionados à mobilidade coletiva, principalmente projetos de priorização do transporte público por ônibus (faixas exclusivas, corredores e Sistemas BRT). Para o início da operacionalização desses empreendimentos é necessário a aquisição de novos veículos.

"Quanto à venda de veículos para o transporte coletivo, o mercado foi fortemente afetado no último ano", adianta Cunha e esclarece que três fatores contribuíram para esse cenário - redução da demanda; ausência de socorro emergencial ao setor e desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos.

A venda de veículos do tipo ônibus urbano foi o segmento mais atingido pela crise do setor. A redução foi de 34,3% no último ano comparado a 2019. A quantidade de veículos comercializada (8.409) é praticamente a metade do volume vendido nos anos compreendidos no período entre 2010 e 2014.

Custos

Acompanhamento da NTU no período de janeiro de 2020 a junho de 2021 expõe uma retração de 20,6% dos empregos diretos gerados em todo o país pelas operadoras de transporte público por ônibus. Mesmo assim, o Anuário aponta que as empresas garantiram aumento de 1,2% na remuneração média dos motoristas.

A série histórica dos preços médios do óleo diesel, corrigida pelo IGP-DI, demonstra redução do custo desse insumo em 2020, comparada a 2019. No entanto, após outubro de 2020, o custo do transporte voltou a ser fortemente pressionado por reajustes consecutivos do valor do litro de óleo diesel nas refinarias promovidos pela Petrobrás.

No período de novembro de 2020 até julho de 2021 foram realizados 16 reajustes pela estatal, que resultaram em uma variação acumulada de 37,4% do preço médio do combustível para grandes consumidores, de acordo com o levantamento de preços realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Tarifa

De acordo com o Anuário 2020-2021, houve uma redução de 17,9% da tarifa média ponderada das capitais pesquisadas entre os meses de dezembro de 2019 e 2020, influenciado pela correção monetária pelo IGP-DI dos valores de toda a série histórica. Sem a aplicação da correção das médias tarifárias para trazê-las para valores presentes, a variação foi praticamente inexistente, de R﹩ 4,16 para R﹩ 4,17.

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